Vale a pena errar
"Todos nós fracassamos, por isso encerremos já a questão. A escolha não está entre o sucesso e o fracasso; está entre escolher o risco e lutar pela grandeza (...) #29
[Tempo de leitura: 6 minutos]
“(…) ou não arriscar nada e ter a mediocridade como certa” Keith Ferrazzi
Confesso que aprender a fracassar (publicamente) tem sido o processo mais desafiador dos meus breves 30 anos.
Se você já se familiarizou com o conceito de mentalidade fixa e mentalidade de crescimento, fruto do trabalho da psicóloga Carol Dweck, vai entender bem quando digo que eu tinha uma mentalidade muito fixa quanto a acertos e aprendizados no campo profissional (leia-se: escola, universidade, trabalho, assim por diante).
Não enxergava os erros como parte necessária de um processo de aprendizagem, mas como características que rotulavam e determinavam quem eu era. Só havia duas possibilidades: ou eu era boa, ou não. Algo fixo, inerente. Não havia meio termo. Desempenhos ruins eram como avisos: cuidado, talvez você não seja suficiente.
Por isso, tinha pavor de errar. Na escola nasceu o meu perfeccionismo e se iniciou uma estrada de sofrimento. Quero frisar que a minha dificuldade nunca foi errar, especificamente, mas errar publicamente. Errar e todo mundo saber. O constrangimento, o sentimento de vergonha, a sensação de que eu estaria sendo avaliada e que um erro me colocaria no segundo grupo (insuficientemente bom) era o que acabava comigo.
Não tinha dificuldade nenhuma em lidar com minhas dificuldades e erros, caso ninguém soubesse deles. É que assim não haveria julgamento. Assim ninguém me rotularia. Eu ainda teria chance de melhorar, tentar. No silêncio, teria a oportunidade de aprender. Percebe que não era sobre fracasso, em si, mas sobre a possibilidade de crítica e rejeição?
Sentia como se, diante do olhar do outro, eu tivesse apenas uma única chance de fazer dar certo e, assim, ser valorizada. Reconhecida, boa e, então, amada. Caramba. Que pesado crescer achando que tem que acertar “de primeira” em absolutamente tudo.
Lembro das inúmeras vezes que tentei passar corretivo em uma nota baixa, ou rasurar a prova, fingir para os outros que não fui mal, nas raras vezes que acontecia...
Meu boletim podia ser recheado de 9,0s e 10,0s, reinando quase absolutos, mas um único 6,0 era o suficiente para eu querer escondê-lo no fundo da última gaveta da escrivaninha, torcendo, ansiosa, para que meus pais não perguntassem a respeito. Lembro até hoje do frio na barriga.
Na apresentação do meu TCC, na faculdade, não avisei ninguém do dia e da hora. Não queria plateia. Prestigiei a de todos os amigos, mas no meu, preferi estar sozinha. Caso fosse um fiasco, ninguém veria. “Melhor assim”, pensava.
E assim foram diversos acontecimentos na minha vida: não compartilhava com amigos processos seletivos que participava, me isolava em momentos importantes. A seleção de bolsa para morar na Espanha foi um deles, compartilhei apenas quando deu certo.
Enquanto concurseira, detestava quando recebia aquela pergunta sorrateira de familiares: “E os concursos?”. Soava como uma alfinetada, mas o problema era eu. Era muito pesada, pra mim, a expectativa alheia diante do meu desempenho. Não sabia lidar direito com aquilo.
Corta para 2020. Pandemia. Mudo de carreira. Abandono os concursos. Entro de cabeça na economia digital, vulgo rede social. Passo a empreender meu conhecimento, botar a cara no sol, me comunicar publicamente. VEN-DER. Consegue imaginar?
Eu consigo. Afinal, estou e estive lá. Os anos de concurso e reprovação me ensinaram muito: aprendi a lidar com a frustração e ressignifiquei o fracasso. Contudo, ir para o on-line elevou esse medo do julgamento a outra proporção. Por isso, assim que comecei nas redes, retomei também a terapia. Sabia que precisaria me fortalecer emocionalmente para dar conta daquele trabalho e da exposição diárias. E eu queria superá-los.
Do lado de fora, estava presente, divulgando o meu conteúdo, meus serviços, comunicando a agenda aberta, vendendo. Quem olha de fora, nem sempre imagina o que se passa para que alguém esteja ali. Esse é o bastidor que nem sempre é dito. Por dentro, é um verdadeiro desafio. Quem vive, sabe. Cada um enfrenta seus monstros, e cá estou, divulgando com você o LADO B do meu palco.
É por isso que vender 1:1 sempre foi mais fácil para mim, nunca tive problemas em ofertar, conversar, falar do que faço bem. Individualmente sempre me pareceu mais seguro. E agora você sabe o motivo.
Todo mundo que já botou no mundo um projeto que demanda vendas em grupo sabe do que estou falando. “E se não vender?”, “e se ninguém comprar?”, “e se só tiver um aluno, o que faço?”. São desconfortos reais, constrangimentos verdadeiros. “E se eu lançar, publicamente, e não rolar?”.
Hoje, tenho uma perspectiva muito diferente. Te pergunto: e daí? Se ninguém aparecer, o que isso significa?
Hoje tenho certeza: os erros fazem parte de todo caminho. To-do. Adoraria que você sentisse isso também.
"Se você está sempre certo, você não está aprendendo. Se você nunca falha, você não está alcançando. O objetivo é estar certo. O objetivo é ter sucesso. Mas se você está sempre ganhando, está subestimando seu potencial." James Clear
Quanto às vendas, soma-se outra questão: a necessidade de desagradar. Sabemos que, para vender, é preciso comunicar. Comunicar de forma específica, clara. Falar para um tipo de pessoa, e levar em consideração suas necessidades, anseios e dificuldades, deixando de lado todas as outras. Que desafio.
Medo de ser mal interpretada. Medo de incomodar quem me acompanha. Acontece que, para atingir nossos objetivos, precisamos falar sobre o nosso trabalho, e não se constranger por ele. Nem todos estarão interessados. Paciência. Ser repetitiva é, por vezes, chato mesmo.
São períodos necessários, porém. De que outra forma poderia alcançar os interessados no seu trabalho? Como irão saber o que você faz, e como, se você não comunica expressamente? Especialmente quando há vagas limitadas ou um período específico para entrada numa turma. É preciso falar! O medo de falhar não pode te impedir de se dedicar e tentar.
Já passou por alguma situação parecida?
Esse texto não tem exatamente uma conclusão, apenas uma série de questionamentos e reflexões.
Quis compartilhar dificuldades reais e genuínas que já passei e ainda passo, vez ou outra. Isso tudo para que 1) você não se sinta sozinha nas suas nóias; 2) reconheça que é perfeitamente comum e normal sentir tudo isso (ou outras coisas); 3) reconheça, ainda, que é possível melhorar.
Se você se identificou e considera que vale a pena compartilhar, que tal fazer e me marcar?
Vale a pena…
COMUNICAR: restam 3 vagas para o Lado B, minha mentoria em grupo para empreendedoras e autônomas. Clica para saber mais. (Olha eu aqui fazendo a minha parte :)
OUVIR & REFLETIR: nossa Queen Bee, e seu novo hit “Break my Soul” (dá o play, DJ!) virou o hino das demissões em massa que tem acontecido nos Estados Unidos (e que já chegou ao Brasil). A vida imita a arte, ou a arte imita a vida?
Se você não sabe do que estou falando, pode dar uma lidinha aqui e aqui.
“O que Beyoncé está dialogando em “Break my Soul” é simples e direto: não vou me destruir por causa de um emprego; pedi demissão e agora estou atrás de algo que faça sentido e que me traga felicidade." O Futuro das Coisas.
Isso me faz refletir sobre como a relação com o trabalho vem se transformando e amadurecendo rapidamente, desde a Pandemia. Precisamos ultrapassar a discussão geracional, deixar de lado a crítica e o julgamento sobre a Gen Z, e olhar com mais curiosidade o que está acontecendo.
Você saberia dizer qual significado o trabalho ocupa na sua vida hoje? Está satisfeita com sua área e com seus resultados? O que gostaria que fosse diferente, se pudesse escolher?
Fica a reflexão.
Até próxima terça,
Bia Brito.
Esse texto parece que foi pra mim...
Eu não fazia nem simulado (graduação/concursos, etc) por medo de errar e reforçar algumas crenças disfuncionais aqui dentro. E mais: medo até desse modelo de 'teste'. A vida é meio que uma questão discursiva na prática, e eu me bitolando em fugir de perguntas. Medo de errar, gigantesco.
Nessa de você migrar pro digital e ter retomado a terapia nessa transição, qual era a abordagem da sua terapia, você saberia me informar, Bia? Fiquei curiosa. Isso porque percebi, pela leitura, que o tal medo da crítica era grande por aí (também rs) e a tua mudança foi incrível. E olha isso? Como tens esculpido a ti mesma... tem sido muito legal aprender, no fim das contas, sobre Humanidade contigo. Já te vejo num TED, facinho, facinho!
De minha parte para contigo, mesmo também em consideração a este texto e a todo teu trabalho, que ultrapassa a dimensão financeira que nos envolve, te digo (do lado de cá, de quem não empreende, de quem é consumidor) que não se esqueça das contraprestações possíveis. Ora a gente pode comprar um produto, ora a gente apoia o trabalho da maneira como podemos. Tô aqui, te prestigiando. É muito bom saber que há essa troca, esse enriquecimento vivencial, mesmo que por ora eu não possa adquirir mentoria ou outro produto contigo. Ao fim e ao cabo, essa troca, diante deste vínculo de aprendizados, importa e ensina mais que uma relação comercial de compra-venda --que é a parte 'objetiva', direta, do teu trabalho. (teu trabalho, no caso, que a gente sabe que é muito, muito, infinitamente mais que isso, claro).
Do ponto de vista do enfrentamento, por exemplo, você dá aula!!! Quanto de coragem ainda cabe nesse 'teu jeitinho', né?! hahaha
Obs.: cada questionamento teu abre uma graduação de filosofia na minha cabeça.
Obs. 2: tamo juntas nas noias e, também, na visão de melhoria delas!
Um beijo e até bem breve!
Ótimo texto, lindas palavras, a tua sensibilidade é gigante, Bia. Também amo escrever. Abro uma página em branco no word ou no bloco de notas e tento expressar em texto o que eu penso e sinto. Adorei que você criou esse local para compartilhar as suas ideias, obrigada e parabéns!!