📧 Assunto atípico, num dia atípico. Sinto que precisava falar sobre isso, e adoraria (mesmo!) te ouvir. Seja você mãe ou não, caso já tenha decidido ou ainda não saiba. Que desafios enfrenta no momento? news@biabrito.com.
🎧 Enquanto escrevia, nos meus fones de ouvido, tocava isso aqui. Dá o play para ampliar a experiência.
☝🏼 Seções novas ao final sobre aleatoriedades pessoais, expansão de perspectivas e indicações.
Tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac
Segundo domingo de maio. Dia das mães. Entre posts de celebração, de homenagem, de romantização, de vida real, de luto e de desabafo, me pus a refletir (mais uma vez) sobre a maternidade. Dessa vez não do lugar da filha que é grata pela sua ter lhe dado a vida (e sou!), mas do lugar de uma mulher que, aos seus 31 anos, se questiona se deseja exercer este papel um dia. Nem adentro o ponto da viabilidade, aqui, mas do desejo, do querer. Quero ser mãe?
Simplesmente não tenho essa resposta. Ainda. Mas, busco. Fiz diversos movimentos nos últimos 2 anos a respeito disso. Sempre que tenho oportunidade, puxo esse assunto com outras mulheres. Quando diante de uma mãe, exploro as nuances daquela escolha (ou falta dela), observo, escuto. Passei a acompanhar diversas mulheres, grávidas, mães recentes ou experientes, para alimentar meu repertório, acessar outras realidades. Continuo sem resposta até aqui. É uma decisão que tão somente se decide? Ou é algo que se sente, genuinamente?
Não sei. Ainda. Numa troca de mensagens com uma amiga de longa data, ela devaneou: “Será que um dia vamos celebrar essa data como mães? Um verdadeiro mistério pra mim, viu..”. É um verdadeiro mistério para mim também.
Tive uma fase, ainda adolescente, que eu dizia querer uma família graaande e muitos filhos. Muitos filhos, tipo 4 ou 5. Mas eu também dizia que queria casar cedo, virgem, e encontrar o meu “felizes para sempre”, digno de desfecho de filme (o meu contexto era um bem específico, mas basta que você saiba que, àquela altura, eu apenas reproduzia discursos). Era uma romântica inveterada.
Bastante coisa mudou. Então passei à fase de rejeitar completamente a ideia, e dizer que não queria ter filhos de jeito nenhum. Era um pesadelo só imaginar. Já cultivei secretamente até o desejo de ser pai, e não mãe (na dúvida, pensava que “ser pai” deveria ser ótimo, mas a ideia de gestar me dava arrepios). Consegue imaginar? Eu era o meme pronto.
Perceba que fui de um extremo ao outro, em um movimento natural de quem começa a conhecer a si mesma e para de simplesmente reproduzir narrativas, mas questioná-las. Sempre fui muito questionadora, então diria que isso começou cedo na minha vida. No processo do autoconhecimento, é comum que se saia do 8 ao 80, nessa busca de encontrar qual a sua verdade. Passamos tanto tempo tentando encaixar em tantas formas, reproduzindo comportamentos e desejos que não são nossos, que quando nos legitimamos a escolher por nós, é natural se perder um pouco.
Tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac
Quando tira toda a armadura, e se abrem as camadas, o que fica?
Não sei vocês, mas eu adoraria poder ouvir mais diálogos e histórias sobre isso. Avançamos muito enquanto sociedade, mas sinto que ainda não chegamos lá.
Fala-se sobre abortos espontâneos, congelamento de óvulos, dificuldade de engravidar. Adoção. Fala-se sobre os desafios da maternidade, da carga mental, da necessária rede de apoio e do jogo de cintura que envolve conciliar os mais diversos papeis, incluindo-se o trabalho externo, para mães que o escolhem. Fala-se até sobre as mães que se arrependeram, e também sobre as que diziam não saber, até certo ponto da vida, quando, de repente, “um instinto maternal surgiu”.
Quando escuto esse tipo de história me lembro de uma Bia criança, nos bancos da igreja, ouvindo pessoas relatarem como “Deus falou com elas” e me perguntava o que aquilo significava. Tinha vergonha de expressar a dúvida em voz alta, pois parecia óbvio e compreensível para todo mundo. Menos para mim. “Como assim Deus falou? A pessoa escuta uma voz? De onde? Como isso acontece?”. Era difícil para mim compreender aquilo sem ter vivenciado qualquer coisa parecida. Soava misterioso. Sobrenatural. Na minha cabeça infantil ansiava por explicações.
Apesar da fé ser embasada justamente em não precisar “ver para crer”, é comum que experiências espirituais sejam melhores compreendidas quando vivenciadas, certo? É algo que mais se sente do que se explica. Mas isso significa que todo mundo irá ter contato com isso um dia? Eu acho que não…
Tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac
Tracemos um paralelo com a maternidade e os tais instintos: não acho que nada, nunca, serve ou é dado a todos, de forma homogênea. É muito difícil compreender esse instinto materno que me dizem possuir, sendo que eu nunca o vivenciei, nunca o senti, nem por um segundo. O que não significa que não exista. Sei que existe. Apenas questiono bastante a afirmação de que nós temos no nosso DNA essa aptidão e inclinação para o cuidado de maneira inata. Temos?
Simplesmente não consigo concordar com isso (não foi por falta de tentativa…). Como os talentos, vocações e habilidades, não somos também diversas? Não seria um fator muito mais cultural e estrutural, oriundo de como a sociedade se desenhou até aqui, do que uma característica inerente a todas as pessoas do sexo feminino? (Já leu sobre a Economia do Cuidado e o trabalho invisível? Então…).
Enquanto sociedade, mudamos, progredimos. Passamos a falar de muito do que era tabu. Mas ainda falamos muito pouco sobre tantas coisas… Ainda se fala quase nada sobre mulheres que cultivaram suas dúvidas, que simplesmente não chegaram a conclusões, mas permaneceram incertas. Aquelas que nunca foram visitadas pelo instinto materno ou pelo desejo, mas ainda assim decidiram. Pelo sim ou pelo não.
Ainda me parece ser um assunto que se mantém no privado. Assim como já foi o divórcio, a dificuldade de engravidar, e tantos outros. Existe certo constrangimento em torno dele. Será que a problemática gira em torno de admitir que não se sabe?
Romper paradigmas é tarefa árdua, mas não chegamos aqui justamente fazendo isso?
“Não é da sua conta se quero ou não ter filhos”, “é indelicado perguntar”, “não deveria ser um tópico”. Pois bem: é um tópico na minha vida. Como não seria?
Quando reproduzimos esse tipo de narrativa, abrimos mão de ter conversas importantes, atualizar debates e construir novos argumentos e pontos de vista. Abrimos mão de construir mudanças, não apenas na esfera individual, mas na coletiva. É através do diálogo que nasce a possibilidade de se construir novas narrativas e futuros concretos e palpáveis.
Toda mudança, grande ou pequena, nasce por uma ideia, que se materializa através de uma mensagem. Martin Luther King que o diga: Ele tinha apenas um sonho…
Eu diria que decisões alheias não são mesmo da minha conta, mas conhecer perspectivas e histórias de outras mulheres sempre me ajudou a desenvolver a minhas. Construir o meu senso crítico, a minha argumentação, ponderar critérios através dos diversos pontos aprendidos, e, assim, fazer as minhas escolhas.
Tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac
Não seria capaz de, em vida, viver todas as possíveis experiências de uma existência. As possibilidades seriam infinitas. É por isso que aprender e refletir através das decisões e aprendizados de outras pessoas é tão precioso. Talvez por isso eu seja completamente viciada em documentários e autobiografias. Relatos verídicos, viscerais, desnudos, me expandem e encantam.
Adoraria, mesmo, ouvir de mulheres que decidiram não ter filhos. Sobre quais motivos embasaram a sua escolha e como elas se sentem sobre isso 5, 10, 15 anos depois. Adoraria ler sobre as que gostariam de ter tido filhos, mas por alguma razão não puderam, ou não conseguiram, e como ressignificaram esse fator na sua vida. Como se sentem?
Me engrandeceria muitíssimo ouvir histórias de mulheres que, pelo motivo que seja, mudaram de ideia. Sobre ter ou sobre não filhos, e o que as fez repensar tudo isso.
Tenho sede e curiosidade de conhecer novos desenhos e estruturas de vida. Por muitas gerações propagou-se um só único: a mulher se torna mãe, permanece em casa; o homem trabalha, ele quem vai para o mundo. Hoje, sabemos, muito mudou. Há tantos outros jeitos e formas de trabalhar, se relacionar e viver. Quais são? Quantos? Quem os tomou? Como foi o processo? As dúvidas, as perdas e os ganhos?
Como estaríamos e onde chegaríamos se falássemos mais a respeito?
Tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac…
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. Trabalho que indico
Falo com frequência sobre a importância de profissionalizarmos nossos projetos e encararmos com seriedade a construção deles, e isso passa não só pela fase de abrir um CNPJ, separar contas bancárias entre pessoa física e jurídica, mas também pelo registro de marca. Yeap.
Eu sei que, às vezes, não temos muita confiança, nem noção do tamanho que nossas ideias podem tomar. Por isso, nem sempre acreditamos tanto. Deveríamos! Registrar uma marca é como dar um passo de fé: acreditar e confiar que vai dar certo, e fazer os movimentos necessários para que aconteça.
Recentemente, dei esse passo! Ainda na esfera da ideia, já com um nome em mente, e ciente de que gostaria que assegurá-lo como meu: fui em busca da proteção e do registro. O projeto ainda não tomou forma, e talvez venha ao mundo apenas no segundo semestre, mas dar esse passo foi simbólico e extremamente significativo pra mim. Foi como dizer a mim mesma que acredito nos meus sonhos, iniciativas e ideias. Como seria você acreditar nos seus também?
Registrar marca não é apenas para empresas grandes e já lucrativas. Lembre-se: tudo nasce com uma ideia…
Não precisa dar esse passo sozinha, é claro: eu mesmo sendo formada em Direito e tendo trabalhado com isso, pedi ajuda. Quem me acompanhou em todo esse processo foi a Marina, da Gardé. Ela foi atenciosa, tranquila e assídua desde o primeiro encontro, e respondeu pacientemente todos os meus infinitos áudios com perguntas e inseguranças sobre como proceder.
Fica a indicação do trabalho dela! Estabelecemos uma parceria que já está rolando há bons 6 meses, e agora chegou o momento de dividir esse movimento com vocês. Já demos entrada, e agora espero a procedência do pedido! Fingers crossed.
Marina é agora a minha advogada de confiança, quem posso recorrer para resolver situações de plágio, cópias indevidas, e também problemáticas que girem em torno de desenvolvimento de contratos. Você já tem a sua?
. Expandindo perspectivas
É frequente que eu receba pedidos de indicações diversas sobre o que ando consumindo e sobre como construo minha visão de mundo. Ela é construída, em grande parte, através dos trabalhos, histórias e trajetórias de outras pessoas. Abri essa seção para dividir um pouco do que venho consumindo, e contribuir com a expansão da sua. Bora lá?
Jane Fonda é uma mulher que muito admiro. A trajetória, as escolhas profissionais, o ativismo e as pautas que abraça. A forma como usa a própria voz em prol de temas relevantes, para levar o mundo em direção a mudança que quer ajudar a construir… seja através de palestras, discursos e movimentos específicos, seja através do seu trabalho como atriz. É, no mínimo, inspirador. 04 indicações que adorei consumir:
TEDTalk (com legenda em português).
Podcast (somente em inglês).
Série documental Apple TV+: Dear… Jane Fonda (temporada 2, episódio 5).
. Aleatoriedades
Para te dar contexto :)
Minha vida tem se desenhado entre muitas viagens ultimamente. É livre escolha minha, mas também uma vontade de abraçar oportunidades. Sábado, dia 20 de maio, já embarco novamente para passar + 3 semanas fora, e eu viverei um grande mix e equilibrar de pratos entre vida pessoal e profissional.
Vai ter reunião e desenvolvimento de trabalhos presencialmente com as minhas mulheres de Portugal, casamento de amigos queridos, visita a uma amiga de infância em Barcelona, mais trabalho, show da Beyoncé, e também vai rolar um encontro com os meus pais em solo português (na primeira vez deles na Europa!). Enquanto tudo isso acontece, terei semanas decisivas para o desenvolvimento de um projeto que vai, finalmente, ter uma etapa importante materializada no meu retorno, em junho. Preciso fazer a minha parte e me dedicar aos textos nessa fase. Já são alguns meses de trabalho, e eu decidi documentar essa reta final! Não só para que eu tenha como arquivo pessoal, mas também para compartilhar mais desse processo ao final dele: eu sei que será mais desafiador dividir detalhes em real time no instagram, pois isso demanda uma energia danada da gente, então, contarei mais no retorno!
Quem gostar e quiser acompanhar meu olhar através dos diários visuais costumeiros, que rolam nos stories, cola no meu @! Bora pra mais uma?
Nos vemos em Junho!
Bia Brito.
Eu farei 36 em janeiro. As vezes me sinto perdendo o prazo de validade. Até hoje só tive idealizações e cobranças em relação a filhos. O contexto ideal ainda não. Tictactictac
Me casei aos 22, mas nunca quis me casar até conhecer meu marido. Também nunca quis ser mãe, mas ao mesmo tempo nunca tive a certeza de não querer. Tenho em mim que se decidir um dia, ou acontecer, serei uma ótima mãe e isso em algum lado me movimenta o ego para uma leve vontade, mas passageira. Logo que me casei as pessoas já questionavam quando viria o filho, ou filhos.. eu dizia sempre que lá pros 30.. Hoje com 32 já estou cada vez mais certa de que não vão vir. No meu caso que nunca tive um desejo de ser mãe e mas também nunca tive uma aversão, eu cheguei a conclusão que terá mesmo que ser uma escolha e de que não terá resposta certa, simplesmente em qual dos dois caminhos, num futuro quando o tempo não puder mais dar volta atrás, eu vou lidar melhor caso bata o arrependimento: ter filhos ou não ter filhos? Eu amo a minha vida hoje, o meu casamento, as possibilidades que eu posso construir com a minha liberdade e estou cada vez mais certa de que vai me doer mais se eu por um acaso perder isso. O insight do arrependimento que me deu foi a Fernanda Neute em uma aula ao vivo no curso dela "o Planeje a sua vida" onde ela falou um pouco sobre essa decisão dela também. Mas no fim eu acho que é isso, uma decisão.