Umas coisas bonitas
Coletânea de Setembro. Para ver, ouvir, imergir, sentir e se deixar afetar junto comigo.
Nota da edição: Usei pela primeira vez o recurso de áudio, como é costumeiro, pra mim, nas conversas com amigos: pensando e dialogando em voz alta. Como um prefácio e uma nota de rodapé. Você pode chegar junto comigo ou partir para a coletânea de uma vez, assim como quem, ao abrir um livro, pula direto para a história.
A publicação de hoje vem diferente: menos prosa, mais curadoria — e uma nota em forma de áudio, como o prefácio de uma obra, mas dessa vez em voz alta, para comentar, devanear e contextualizar a edição. Um apanhado da arte que tem me afetado e me inspirado, de alguma maneira, na última quinzena.
A minha proposta é alargar os nossos horizontes culturais e perceptivos.
Trabalhos, plataformas, artistas que adoraria que você conhecesse, também, mas que não cabem, de forma alguma, apenas numa última seção, após longo texto. Merecem espaço próprio, desde o começo. Então bora começar.
Prefácio:
Letra miúda:
*para melhor experiência, escute de fones de ouvidos :)
Coletânea de Setembro, 2024.
Música
Brasiilll Brasileiro
Jota.pê. Se o Meu Peito Fosse o Mundo — "O álbum mais importante da minha vida". Que preciosidade esse álbum. Gostoso mesmo. Escuta aí :)
Um pouco mais sobre as minhas três faixas preferidas do álbum:
OURO MARROM, pela relevância do tema, e a emoção que transborda na música. É uma das favoritas do Jota, e minha também. Nas palavras dele “É a primeira vez que eu falo sobre a minha relação com o racismo em uma música. Comecei a composição após ler uma notícia de violência racial que me deixou com muita raiva. Mas em seguida recebi uma mensagem da Bruna Black, minha amiga e parceira musical no projeto Avuá, que falava como a filha dela estava bem e como ela estava feliz com isso. Isso me fez refletir e me lembrou a música ‘AmarElo’, em que o Emicida canta: ‘Achar que essas mazelas me definem/ É o pior dos crimes/ É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóis sumir’. Fizemos apenas uma sessão de gravação para ‘Ouro Marrom’ – e é a que está no álbum. Sou eu sozinho na voz e no violão.”
FEITO A MARÉ, pela ode às celebrações dos processos."Estava pensando sobre a carreira de músico, cheia de expectativas e dificuldades. Percebi que, para evitar frustrações, eu não estava comemorando mais as possibilidades nem as coisas que realmente aconteciam. Por isso estava me sentindo apático, infeliz. A partir daí voltei a me entusiasmar com as coisas boas. Então, quando eu digo: ‘Cê me rodeia outra vez/ E eu faço festa por te ter de novo’, parece que estou falando de um relacionamento, mas na verdade é sobre reaprender a celebrar as conquistas da vida".
BANZO, por retratar e trazer tão pra perto esse frescor da infância. Uma frase em específico me tocou "quando eu era pequeno, só queria ser gigante; agora que gigante sou só quero caber em algum lugar". Nas palavras do jota, "O resultado virou uma mistura do que a gente estava vendo ali e dos nossos sentimentos. Tem a ver com o crescimento e com a busca de um lugar no mundo”.
Para curiosos e interessados como eu, bastidores do álbum, e a lembrança de que ninguém faz nada sozinho:
Gringaiada
Eu sou obcecada por conhecer versões diferentes de uma mesma música, as derivações em piano, orquestra, com harmonização vocal, acapella… enfim. Recentemente descobri (não conhecia!!!) o COLORS STUDIO, que é tipo o Tiny Desk, só que ao contrário, risos. A proposta e conceito deles é essa daqui:
“No contexto de uma cena cada vez mais fragmentada e saturada, procuramos proporcionar clareza e música calma, oferecendo um palco minimalista para destacar os artistas e dar-lhes a oportunidade de apresentar a sua música sem distrações.” (Tradução livre)
Nem preciso dizer que eu me apaixonei pela proposta, e trago aqui o lançamento deste semana, com Billie Eilish. Achei muito especial por ela ter voltado, 6 anos depois, noutro momento profissional, para uma plataforma que a trouxe visibilidade e oportunidade lá no começo. Como pontuado neste comentário:
Para quem se interessa pela trajetória de artistas e a sua relação com as próprias criações, abaixo a entrevista da Billie (tem tradução automática do YT para português, se você precisar); e, na sequência, a versão COLORS de WildFlower.
Como é que a criação de música ajudou na sua jornada?
“Criar música é uma coisa muito curadora. Quando você escreve uma música, é uma forma de ser ouvido e visto, até por você mesmo. É a maneira mais perfeita de se expressar. E é tão gratificante e recompensador, libertador e catártico. Tem sido uma grande ajuda na minha vida” (Billie Eilish)
É bizarro pensar que ela tem apenas 22. É muito talento. Imagina em mais 6 anos?
Autor e obra.
Carla Madeira no Roda Viva: sobre a trajetória de “Tudo é Rio"; perdão; sexualidade; e um tanto de coisas mais. Enquanto Carla escrever, eu estarei lendo…
Minissérie Documental.
1 temporada, 8 episódios, e outra perspectiva a respeito da história do Anexo Secreto que abrigou a família Frank (O Diário de Anne Frank, já leu?): a de Miep, a funcionária de Otto Frank, que tomou para si a missão de os ajudar a se esconder da perseguição nazista, na Holanda, durante a Segunda Guerra. Por 2 anos levou comida, notícias, presença e amor àquelas pessoas, atravessando com eles os dias mais sombrios.
Li o Diário de Anne Frank adolescente, ainda na escola. Durante a faculdade, por ocasião da bolsa de intercâmbio para estudar na Espanha, tive a oportunidade de conhecer Amsterdam, e visitei a casa onde viveram nesse período. Quase 10 anos depois... Assisto essa série, e ela me emocionou, me incomodou, me atravessou de tantas maneiras. Mesmo já sabendo a história. Está no Disney+. Recomendo muito.
“Deixe tudo acontecer com você: da beleza ao terror; apenas continue; nenhum sentimento é real.” (Rainer Maria Rilke)
No mesmo contexto histórico, outros que também valem o seu tempo: "A menina que roubava livros" (livro e filme); “A Bailarina de Auschwitz" (livro); o "Menino do Pijama Listrado" (livro e filme); e por último, mas não menos relevante, "Jojo Rabbit" (filme).
Fotografia.
Stefania Bril. Como a vida não brinca nas suas coincidências, fui ao IMS Paulista para conhecer de perto a vida e o trabalho de Stefania Bril. Sua fotografia "aposta no cotidiano, no afeto e na empatia como antídotos" à violência estrutural que ela conheceu, como judia, durante a Segunda Guerra Mundial, na Polônia; e, posteriormente, no período da ditadura militar, no Brasil.
“Em suas imagens, não encontramos traços singulares das cidades retratadas, e tampouco vemos um fascínio pelas edificações modernistas ou por paisagens urbanas arrojadas; se há algum encantamento, ao contrário, é pelo que quebra a ordem." (Miguel de Castillo)
Para conhecer mais da sua história e ler a matéria completa clique aqui. A exposição é gratuita e estará no IMS até o dia 26/1/2025. Se estiver por São Paulo nesse período, e gostar de fotografia, vale a visita. Acesse mais informações clicando aqui.
Agora é a minha vez: quero suas recomendações. Bora ampliar essa coletânea? Compartilha comigo uma coisa bonita que te marcou no último mês, que você me indicaria conhecer/consumir (e por quê)? Vale literatura, poesia, filme, documentário, fotografia, música… qualquer tipo de criação ou arte, que te afetou de alguma maneira. Eu quero saber o motivo. E ampliar esse fio que costura e entrelaça os meus interesses com os seus. Se topar, comenta aqui abaixo ou responde esse email.
Fio que costura
Insights e mensagens de vocês sobre a última edição. Para agradecer e para lembrar: não estamos sozinhos. Por identificação ou diferenciação, vai que conecta e ressoa mais um pouco contigo também?
“Pertencimento … a si antes de qualquer coisa … “
“Você rasga o verbo & o peito e a gente fica sem fôlego do lado de cá. A gente sai dessa inércia que nos acomoda a aceitar que as coisas são como são; percebendo que elas podem (e devem?) ser de outra forma. (...) Preciso dizer que a discussão me fez sonhar e refletir: se eu sumisse do online, quem seria eu?”
“Foi como se alguém estivesse escrevendo/revelando um pouco de uma angústia que sinto.”
“Li recentemente o livro "Um teto todo seu" da Virginia Woolf, e extraí insights que me fizeram olhar para o passado, e para a atividade com menos exigência, mais leveza: 'Acima de tudo, você deve iluminar a própria alma, com suas profundezas e superficialidades, suas vaidades e generosidades, e dizer o que a sua beleza significa pra você, ou a sua simplicidade, e qual é a sua relação com o mundo sempre em mutação (...) Seja verdadeira, alguém diria, e é certo que o resultado será surpreendentemente interessante.'
“Ler de outras pessoas corajosas essa decisão de não se recortar para caber em espaços para agradar a todo custo me lembra dos meus próprios motivos, que às vezes perdem um pouco de força pela rotina. Então é bom saber que a percepção é igual, mesmo que por perspectivas diferentes.”
“De onde você me conhece? Como pode saber tanto de mim? Como pode saber mais sobre mim do que eu mesma? Como…?”
“Me encontrou em um momento em que eu era quem precisava dele. (...) Chegou com calma, com leveza. E me preencheu. Foi uma identificação imediata. Muitas falas suas estavam em meu coração, mas ainda sem as palavras.”
“Puxa tudo isso descreve tão bem o que tenho me descoberto, especialmente depois do meu diagnóstico (…) assim como você, essa relação dúbia com o Instagram. Um espaço que não incentiva textos longos, embora eles sejam importantes pra mim.”
“Ao contrário de você, to num momento em que as palavras tem me faltado. (...), a sensação foi de dor e alegria ao me reconhecer um pouco nelas."
"A gente tá o tempo inteiro querendo saber quem a gente é, né?"
A gente tá. Até a próxima!
Beatriz.
Acredito que são diversas as maneiras de se expressar, ocupar nossos espaços e a nossa maneira de estar no mundo. Trabalho com a concepção narrativa e visual de projetos criativos, atuando da concepção à materialização do todo. Para saber mais, acesse https://biabrito.com/services/ ou mande sua ideia para btrz@biabrito.com.
Amei o formato de áudio, quase um podcast! E gostei demais dessa ideia de "liberdade cognitiva", fui pesquisar - não conhecia o conceito!
Bia, quando vi a sua mensagem na caixa de entrada, a ideia era dar uma olhada rápida e depois voltar para ler com mais calma. Mas seu áudio fez ficar. Fiquei curiosa para saber o que vinha e chegou como um alento em meio a correria do dia (e que bom!).
Acho que unir a escrita e a voz em uma newsletter é uma ideia super bacana e torna esse espaço ainda mais valioso - o que do meu ponto de vista de leitora (e agora, ouvinte kk) envolve profundidade de conteúdo, mas também conexão, através das suas histórias e perspectivas.
Sobre o seu prefácio, queria dizer que adorei a parte sobre "autonomia cognitiva". Penso que, diante de tantos conteúdos prontos/mastigados pelo algoritmo e entregues rapidamente para nós, exercemos cada vez menos o nosso senso crítico e reflexão. Sob a pretensa justificativa da "comodidade" e da "eficiência" (não só nas redes sociais, mas em outras plataformas e aplicativos) colocamos em xeque a nossa própria capacidade de refletir e prestar, de fato, atenção ao que fazemos.
Às vezes, em questão de segundos, lemos e ouvimos tantos conteúdos de forma conjunta, mas fico pensando: o que de fato agrega? O que é relevante? Será que realmente estamos absorvendo todas essas informações? Possivelmente, não...
Por isso, interessante pensar sob esse viés da autonomia cognitiva, para assumirmos mais responsabilidade e intencionalidade pelo que consumimos e pela forma como consumimos. Para que espaços como esse, no qual conseguimos encontrar mais calma, profundidade e presença, possam prevalecer.
Muito obrigada por compartilhar suas reflexões/coletâneas e tornar possível esse espaço para todos nós aqui!